Principais diferenças na RCP adulto X pediátrica

Olá leitor!

Você já fez os cursos ACLS e PALS? O Advanced Cardiovascular Life Support aborda as principais coisas que um médico precisa saber para lidar com uma parada cardiorrespiratória (PCR) e conduzir bem uma reanimação cardiopulmonar (RCP). Já o Pediatric Advanced Life Support aborda as mesmas questões aplicadas à pediatria.

Quem já cursou a matéria de pediatria na faculdade pode perceber que trata-se de um mundo a parte e que criança está longe de ser um “pequeno adulto”. As patologias são diferentes, as respostas fisiológicas são diferentes, etiologias, doses medicamentosas, absolutamente tudo será diferente na pediatria.

Independentemente da especialidade que o médico irá seguir, espera-se que todo médico saiba fazer uma RCP de qualidade, embora na prática as PCR’s sejam um completo caos quando o líder é um médico sem treinamento adequado. Portanto, próximo à formatura ou logo após graduar-se, pense com carinho em arranjar um tempo na agenda para fazer os cursos ACLS e PALS.

A seguir, algumas peculiaridades na reanimação de adulto x criança que são dignas de nota após realizar os cursos:

  • Massagem cardíaca:

– No Adulto, as compressões torácicas devem ser sobre o terço médio do esterno, usando as duas mãos (uma sobre a outra), afundando o tórax cerca de 5 a 6 cm e permitindo seu retorno completo entre as compressões. O socorrista deve usar o peso do próprio corpo para realizar as compressões com mais qualidade.

– Na criança, as compressões torácicas devem ser realizadas sobre o terço médio do esterno, usando uma ou duas mãos a depender do tamanho da criança, afundando o tórax cerca de 5 cm e permitindo seu retorno completo entre as compressões. Em caso de bebês, recomenda-se a técnica dos dois polegares para compressões torácicas.

  • Relação ventilações-compressões:

– No adulto, o ACLS recomenda que a cada 30 compressões torácicas, sejam realizadas 2 ventilações na presença de 2 socorristas.

– Na criança, o PALS recomenda que a cada 15 compressões torácicas, sejam realizadas 2 ventilações na presença de 2 socorristas.

  • Carga do Choque

– No adulto em caso de ritmo chocável no monitor, deve-se carregar o desfibrilador bifásico na carga de 200 J e aplicar um choque não sincronizado.

– Na criança em caso de ritmo chocável no monitor, deve-se carregar o desfibrilador com 2 a 4 J por kg de peso e aplicar um choque não sincronizado.

  • Ventilação com via aérea definitiva

Caso seja optado por intubação orotraqueal, após o estabelecimento da via áerea definitiva as compressões torácicas devem ser contínuas, e a ventilação deve ocorrer:

– Na criança, segundo o PALS, 1 ventilação a cada 2-3 segundos, totalizando 20 a 30 por minuto.

– No adulto, segundo o ACLS, 1 ventilação a cada 6 segundos, totalizando 10 por minuto.

  • Dose de adrenalina/epinefrina

– A dose de adrenalina na PCR de adulto preconizada pelo ACLS é de 1 ampola ou 1 mg EV bolus, seguido de um flush de 20 ml de cloreto de sódio 0,9% ou ABD e elevação do membro em que foi realizada a medicação, a fim de garantir rápida chegada à circulação sanguínea.

– A dose de adrenalina na PCR de crianças de acordo com o PALS é de 0,01 mg/kg ou 0,1 ml/kg da solução de adrenalina a 0,1mg/ml (leia-se: dilui 1 ampola de adrenalina + 9 ml de cloreto de sódio 0,9% , faz 0,1 ml desta solução por kg do paciente).

Existem inúmeras outras peculiaridades, mas essas são as principais que eu recomendo quem não fez os cursos saber de cor de qualquer forma.

Um abraço e até a próxima!

Carolina Vargas Duarte – Médica R2 de Medicina de Emergência

Como repor potássio?

Distúrbios Hidroeletrolíticos

O senhor José, 52 anos, foi admitido na upa com queixa de vômitos e diarreia há cerca de 24h. Na revisão laboratorial, apresentou um K = 2,8.
Como repor o potássio?

A hipocalemia é um distúrbio hidroeletrolítico no qual o potássio sérico fica inferior a 3,5. Em geral, considera-se a hipocalemia:

  • Hipocalemia leve: K 3,0 a 3,4
  • Hipocalemia moderada: K 2,5 a 2,9
  • Hipocalemia severa K < 2,5

Hipocalemia severa pode levar à redução do tamanho da onda T no eletrocardiograma ou “onda T achatada”. Esta condição predispõe o paciente a arritmias.

Para corrigir a hipocalemia, é possível usar reposição de potássio oral ou endovenosa. Via endovenosa é possível utilizar um acesso venoso periférico ou um acesso venoso central.

Em geral, a reposição por acesso venoso central ocorre em pacientes de terapia intensiva que evoluem com hipocalemia. Usualmente na emergência não se indica uma punção de acesso venoso central apenas para repor potássio.

A reposição oral geralmente é feita em pacientes com hipocalemia leve e ausência de sintomas gastrointestinais, pois o xarope de potássio via oral pode predispor a náuseas, vômitos e diarreia.

Sendo assim, a reposição mais utilizada no pronto atendimento é a reposição por acesso venoso periférico. Esta reposição deverá preferencialmente ser realizada em infusão lenta, pois o potássio é altamente irritante em veias periféricas e sua administração pode ser dolorosa e causar flebite. A diluição do potássio deverá preferivelmente ser feita em soluções salinas!

A dor na região do acesso é mais comum quando é realizado infusão com velocidade maior que 10meq por hora, mas pode ocorrer mesmo em velocidades menores.

Prescrição sugerida para o Sr. José, com K 2,8:

-> 480ml de Cloreto de sódio 0,9% + 2 ampolas KCL 10% (total de 20ml) . Total de 2 esquemas. Fazer EV em BIC 80ml/h.

-> Em geral, 20mEq de potássio aumenta a concentração sérica em 0,25mEq/L. Logo, com 2 esquemas de 480ml de Cloreto de sódio 0,9% + 2 ampolas KCL 10%, espera-se que o potássio sérico do Sr. José aumente de 2,8 para 3,45.

-> Após o paciente receber os 2 esquemas (o que deverá ocorrer em 12 horas e meia aproximadamente), dosar novamente o K sérico.

-> Teoricamente, pela literatura, seria possível administrar esse esquema mencionado (2 ampolas de kcl 10% em 480ml Nacl 0,9%) em uma velocidade de até de 200ml/h, que corresponderia a 10 meq/h em acesso venoso periférico. Entretanto na prática essa infusão é pouco tolerada. Os pacientes reclamam muito de dor às vezes até com velocidades bem menores, como 100ml/h.

-> Fica a dica: se o paciente está clinicamente estável, por que correr o risco de causar uma flebite? Geralmente 80ml/h é uma velocidade que irá repor este íon em até 24h e será segura e bem tolerada pelo paciente.

Referências:

-> Pullen H, Doig A, Lambie AT. Intensive intravenous potassium replacement therapy. Lancet 1967; 2:809 . DOI: 10.1016/s0140-6736(67)92239-8

-> Hospital Sírio Libanês. Guia Farmacêutico 2023. Disponível em: https://guiafarmaceutico.hsl.org.br/cloreto-de-potassio-injetavel